TRADIÇÃO, COSTUME E HIPOCRISIA
Nós, que vivemos a Fé, temos a graça de ter aprendido dos antigos o modo de ser cristão católico. De fato, as irmãs e os irmãos que viveram antes de nós é que vieram passando, de geração a geração, tudo quanto sabemos hoje a respeito da prática da religião.
Eis a linha mestra: de Deus para Abraão, Moisés, Jacó, passando pelos profetas. No tempo oportuno, o próprio Filho Unigênito veio pessoalmente corrigir o que andavam distorcendo, revelando muitos outros mistérios. De Jesus, o depósito da Fé foi passado aos Apóstolos e, na sucessão apostólica, a todo o clero.
A Fé tem regras, normas, leis, mandamentos, tradições. O tripé que nos sustenta é formado pela Sagrada Escritura, pelo Sagrado Magistério e pela Sagrada Tradição. Assim, todo católico dever ser "conservador", no sentido de conservar intacta a doutrina de Cristo, protegendo-a de falsas mentalidades e dos falsos modismos humanos.
Hoje em dia, numa sociedade cada vez mais refém do marxismo cultural, alguém que se diz "tradicional" é sumariamente condenado, como se isso fosse algo ruim. Desde quando seguir as tradições da Fé nos prejudica? Desde quando viver a Fé igual aos nossos antepassados é algo condenável?
Decerto que, de tempos em tempos, podemos e devemos nos adaptar. Atualmente, em nossas igrejas usamos projetores, microfones sem fio, instrumentos musicais, etc. Não há mal algum nisso. O que não podemos adaptar é a doutrina de Cristo. Esta não deve se adaptar ao mundo, é imutável. É o mundo que deve se converter ao Evangelho, não o contrário.
A nossa medida é Jesus. Ele é a nossa rocha, a nossa base. Tudo o que vivemos e somos deve ser a partir de Jesus, não dos modismos do mundo. Uma igreja que se deixe levar pelo tal "respeito humano", colocando este no lugar do temor a Deus, já nem igreja é. Uma igreja que prefira adaptar-se aos costumes do mundo, aceitando o aborto e o divórcio, o homossexualismo e a falta de castidade (só pra ficar em alguns pecados), não serve a Deus, mas ao diabo.
A igreja que se conforma ao mundo, é hipócrita. Dela não poderá vir nada de bom, pois seus frutos já nascerão apodrecidos. O convite de Cristo é para sermos fiéis à radicalidade do Evangelho, ou seja, sermos "católicos raiz". Ou a gente nada contra a corrente, como fez Jesus, ou seremos um bando de maus fariseus, uma turba de falsos mestres da Lei.
É fácil lidar com o desprezo à Tradição? É fácil lutar contra os falsos costumes humanos contaminando a santa Doutrina? É fácil combater as hipocrisias dentro e no meio de nós? Certamente não. Se fosse fácil, não seria Fé genuína. Se fosse fácil, não seria a verdadeira Igreja. Se fosse fácil, seria um lazer, um passatempo ou uma ONG, um clube de amigos.
Nós, católicos, somos a Igreja de Cristo. Somos seu corpo místico nesta terra. Conservar a Fé e viver a Tradição é nosso dever e salvação. Quem tiver coragem, continue carregando a sua cruz de cada dia. Somente ela nos levará, um dia, à glória da ressurreição da Igreja que nos aguarda no Céu.
Amém!
(Pe. Sala é jornalista e escritor, professor e teólogo, membro da Academia Ituana de Letras)