TIO CELSO
Era assim que todos chamavam o Diácono Celso Cajado Majoral. Foi o primeiro diácono que conheci na vida, ainda bem jovenzinho e freqüentando a comunidade de jovens JACA, da Matriz da Candelária. Junto com sua esposa Sueli e outros casais, botavam tudo para funcionar, tomavam conta da gente e não deixavam os jovens extrapolarem na alegria.
Depois de fazer o EAC (encontro de adolescentes com Cristo) e começar a participar do JACA, infiltrando-me no grupo de violeiros (mesmo sem ainda distingüir um ré de um dó), fiquei uns três anos participando das missas, ensaios e reuniões nas noites de sábado. A comunidade foi um lugar de fazer amizades que duram até hoje, graças ao bom Deus.
Tudo culminava nas intermináveis voltas em torno do "bobódromo", o quarteirão do Museu da Convenção, do Tonilu da esquina, da Floriano Peixoto e da Chocolito. Depois alguns conseguiam comer lanche no Jabá, no China (Rangão) ou Betos. Eu sempre me preocupava com alguma carona para o Jardim Aeroporto ou Eridano. Caso contrário, sempre havia um colchão extra na casa dos Santa Rosa, ufa!
Lembro exatamente do dia em que alguém me chamou e disse: "Tio Celso quer falar contigo". Mas logo eu? O que será? Fui lá e ele disse: "Ô garoto, tudo bem? Você não quer dar um papinho no próximo encontro?". As palestras nós chamávamos de "papinho". Inseguro, confessei que nunca tinha feito isso e que talvez não fosse o melhor para a coisa.
Tio Celso me encorajou: "Que nada! Você fala muito! E se fala muito deve falar bem. E se não falar bem, com o tempo vai aprendendo!". Recebi dele uma série de textos para estudar e pontos para frisar bem durante a palestra. Uma semana depois, lá estava eu diante do Tio Celso e dos casais do JACA, pra fazer um teste do papinho. Fui aprovado, graças a Deus.
Lembro que voltei emocionado pra casa. Só não chorei no ônibus porque o preço da passagem já cumpria essa tarefa satisfatoriamente. Tio Celso foi o responsável por eu colocar, enfim, um dom a serviço da Igreja. Se hoje gosto de dar aulas e formações, se nessa missão alguns frutos aparecem, tem muito dele em tudo isso.
Para lidar conosco, tinha uma paciência de pai ou de Jó: quem for daquele tempo, que escolha. Mas haja paciência! Os jovens são impulsivos, reativos, não medem direito as coisas, passam dos limites, são rebeldes, mas... Se houver um pai que entenda, vamos tocando o barco. Até nos atritos sabia lidar conosco. Mais um ponto a ser grato ao Tio Celso.
Quando da minha ordenação diaconal, cinco anos atrás, não tive dúvidas: fui até o Tio Celso para que ele me presenteasse com o Evangeliário, que é o livro litúrgico que contém as leituras dos Evangelhos das solenidades e festas, o livro próprio do diácono. Mas eu não queria apenas um presente. O que eu queria mesmo era a dedicatória. E Tio Celso escreveu:
"Salathiel: desejo que o Espírito Santo o conduza, através deste Evangeliário, a levar o mesmo Amor que Deus tem por nós. Você é uma pessoa muito especial aos olhos de Deus. De seu amigo, Diácono Celso Majoral".
Vindo dele, é uma baita coisa. Tio Celso foi muito especial, para muitas pessoas e não apenas as da própria Família. Foram muitos os batizados e casamentos, além das Celebrações da Palavra, em que o dom de seu diaconado tocou inúmeras pessoas. Um dom, nunca se despreza. Vários dons, ninguém tem o direito de julgar erradamente.
Agradeço a Deus porque o Tio Celso foi uma dessas pessoas que fizeram a diferença na minha história. Rezo para que Deus o acolha no Paraíso e que possamos, desde aqui, firmes na Missão, nos prepararmos para o inevitável reencontro na eternidade. Meus mais sinceros pêsames a seus familiares e amigos, além da minha oração.
Amém.