SER PADRE
A figura do sacerdote sempre existiu. Em qualquer tribo, nação ou grupamento humano, sempre houve curandeiros, pajés, xamãs, etc. É muito má vontade negar que o ser humano tem, sim, uma transcendência. Chega a ser desonestidade intelectual uma certa birra que nega burramente a verdade de que a humanidade busca uma conexão espiritual com uma dimensão inalcançável pelas vidas da razão e da ciência.
Há quem pense que a vida religiosa está fora de moda. Ledo engano. Brasil e mundo afora, são milhões os que fazem essa opção. Ainda há jovens que deixam quaisquer planos para ingressar nos seminários, conventos, comunidades de vida, etc. O chamado que Deus faz, na vocação, é incessante. Muitos ouvem e respondem: "Eis-me aqui, Senhor! Pra fazer tua vontade e viver no teu Amor".
Ser padre não está fora de moda. Graças a Deus temos inúmeros sacerdotes apascentando o rebanho do Senhor. O trabalho de vários deles nas redes sociais e nos meios de comunicação social, ajuda milhões de pessoas. É um belo e necessário serviço nestes tempos de tecnologia globalizada. A cruz dos sacerdotes, porém, parece estar mais pesada a cada dia. Infelizmente, alguns abandonam a vocação, o sacerdócio, por inúmeras razões.
Penso que Nosso Senhor Bendito, no carregamento da cruz, sentiu-se muitas vezes sufocado. O peso do madeiro, caminhar sendo agredido, a dor dos machucados, impediam sua livre respiração. Assim também acontece com os sacerdotes deste nosso pobre século: o peso das responsabilidades, as agressões muitas vezes gratuitas, a dor dos próprios pecados, podem impedir um padre de ser feliz e realizado na sua entrega diária.
Para seguir em frente, mesmo que aos trancos e barrancos, é necessária uma grande motivação. O que motiva um padre? Um amor apaixonado a Cristo e à sua Igreja. Nenhum sacerdote deve se esquecer de que sua missão primeira é salvar almas, levar pessoas para mais perto de Jesus. É um trabalho de fé, uma missão de resgate. O desejo de um bom padre é que seus fiéis estejam um dia no Paraíso, que é a nossa verdadeira casa.
Não há como ser "um outro Jesus" para as pessoas sem antes possuir uma verdadeira intimidade com o Mestre. É preciso conhecê-lo, saber seu modo de pensar e agir. É necessário partilhar com Cristo as dores e as alegrias desta vida, pedindo que nos ilumine e ensine a amar como ele amou. É missão do padre estar com o povo para anunciar a verdade do Evangelho, curar das feridas do mundo, libertar das ciladas do demônio e exortar à vida em santidade.
O melhor presente para um sacerdote é pedir e receber como graça de Deus: o gosto por uma vida santa, a sabedoria para conduzir o rebanho, a firmeza diante dos modismos e contradições, a radicalidade amorosa de quem deseja mesmo dar a própria vida em favor dos irmãos.
O padre precisa aprender a sofrer com Jesus as mesmas calúnias e difamações, injúrias e perseguições, que ele mesmo sofreu. Deve estar sempre atento às ciladas do inimigo e ser muito resiliente, com um espírito firme. O sacerdote tem que estar disposto a morrer com o Mestre, um pouco por dia, sendo alvo dos falsos julgamentos do mundo, das covardes agressões morais e até físicas, uma vez que ainda há padres sendo torturados e assassinados em alguns lugares deste pobre planeta.
O sacerdote deve ser o primeiro a crer e a testemunhar a Ressurreição, deixando-se ressuscitar diariamente pelo Nazareno. Contra as intempéries de fora, a paz interior. Contra o pecado de fora, a oração interior. Contra os inimigos externos, a amizade íntima com Cristo. O padre não pode esquecer que sua missão é a de salvar almas, inclusive a dele mesmo. Continuemos rezando muito pelo aumento do nosso clero e por sua santidade.
Amém!
(Pe. Sala é jornalista e escritor, professor e teólogo, membro da Academia Ituana de Letras)