RESPEITE OS MEUS
CABELOS BRANCOS
Antes que Jesus, Maria e José formassem a Sagrada Família de Nazaré, houve uma outra família sagrada. Era formada por Joaquim e Ana, que se tornariam os pais da Virgem Maria. Um casal santo e justo, sempre recordado pela liturgia no dia 26 de julho. Nesta data convencionou-se celebrar também o Dia dos Avós, por serem Ana e Joaquim os avós maternos de Jesus.
É inevitável, nesta ocasião, pensar nos nossos idosos. No Brasil são milhões de velhinhos e velhinhas. Há uma certa esquizofrenia social no modo de tratar os idosos brasileiros. Ao mesmo tempo em que se afirma amá-los, se lhes nega uma real admiração e respeito, sem os quais se tornam pessoas obsoletas, ultrapassadas e fora de moda.
Em outras culturas o velho é venerado. Chamar-lhe de velho não é desonra, mas orgulho. Um avô, quando abre a boca, é ouvido pelos filhos e netos, pela esposa e noras. O mesmo acontece com a avó: é a mais amada e super respeitada, jamais contrariada. Em outros países, chegar à velhice é algo normal e desejado. Os cabelos brancos são como um troféu, uma medalha. As rugas são cicatrizes felizes de uma vida bem vivida, com muito trabalho e luta.
No Brasil, infelizmente, nem sempre é assim. Para muitos a velhice parece como se fora uma maldição. Ao sinal dos primeiros fios brancos, trata-se logo de arrancá-los ou escondê-los. E haja tintura! Por aqui se ofende quando se chama a alguém de velho. Disfarçamos usando o termo "idoso". A praga do politicamente correto criou até mesmo um "melhor idade", o que também não corresponde verdadeiramente...
Por que tanta rejeição e medo da velhice? Porque no Brasil os velhos são esquecidos, abandonados e menosprezados. Em muitas famílias brasileiras o idoso é um encosto que as pessoas suportam. Não recebem carinho, nem respeito. Quando abrem a boca, escutam: "O senhor não sabe de nada! Isso era no seu tempo! Fique quieto, agora é de outro jeito!".
São milhares os asilos espalhados pelo país, a minoria deles públicos. Muitos são chamados de "lares" para idosos, mas em seu interior não refletem a realidade de um lar verdadeiro, com aquele calor humano que somente a instituição familiar tem. Nossos velhinhos e velhinhas são muitas vezes jogados em verdadeiros depósitos humanos, nos quais jamais recebem visitas dos filhos e netos. É uma lástima a realidade dos idosos no Brasil.
Precisamos denunciar para refletir e transformar essa mentalidade cruel e utilitarista da pessoa humana. Envelheceu? Não serve mais! A sociedade brasileira precisa reconhecer as décadas de esforço e trabalho dos nossos idosos, tratando-os com admiração, carinho e dignidade. Os cabelos brancos precisam ser muito mais respeitados entre nós.
Infelizmente muitos só dão valor às coisas quando as perde e não tem mais. Infelizmente muitos só vão entender a riqueza de seus avós quando estes já partiram deste mundo. Que não seja assim entre nós. Saibamos amar e respeitar, valorizar e sobretudo rezar pelos nossos velhinhos. Muitas vezes eles são difíceis de lidar? Sim. Muitas vezes são insistentes em suas teimosias? Claro. Muitas vezes nos surpreendem com as suas manias? Com certeza. Mas isso é porque são seres humanos, são pessoas que precisamos continuar amando.
Possamos pedir sempre e sempre a intercessão de Santa Ana e de São Joaquim para que abençoem os nossos idosos. Se respeitamos os avós de Cristo, saibamos respeitar também os nossos. Que no Brasil a velhice seja um prêmio e não uma vergonha. E que nós tenhamos a sabedoria necessária para aprender com esses mestres e mestras da experiência que cursaram, durante uma vida toda, a melhor faculdade que existe, que é a escola da vida.
Amém
(Pe. Sala é jornalista e escritor, professor e teólogo, membro da Academia Ituana de Letras)