MORREU O PET: O QUE FAZER?
Não é de hoje que os seres humanos domesticam animais. Conforme consta no livro do Gênesis, toda a criação divina foi colocada aos pés de homens e mulheres para que a dominasse. Por isso, não é pecado matarmos um boi, um porco ou um frango para nos alimentar. Do mesmo modo, também não peca quem tem peixinhos num aquário, passarinhos na gaiola, etc.
Os animais de estimação ocupam um lugar especial na vida da gente. Trazem alegria ao ambiente e fazem companhia. Os mais comuns, gatos e cachorros, até mesmo zelam pela segurança do local. Os primeiros afastando insetos e outros bichos, os segundos rondando a casa e assustando potenciais assaltantes.
Quando morre um animal de estimação, muitas pessoas manifestam dúvidas sobre como agir e como encarar o fato à luz da fé cristã. O ideal é sempre manter o bom senso e jamais incorrer em qualquer tipo de idolatria. Decerto que haverá tristeza e uma espécie de luto. Porém, não se deve humanizar o que é criatura. Humano é humano, bicho é bicho.
Segundo a doutrina católica, os animais não possuem alma no que se refere à uma razão e ao livre-arbítrio. São treinados, mas não têm opinião. São adestrados, mas não têm vontade própria. São acostumados, aprendem a se adaptar aos ambientes. Dê um lápis a um cachorro e ele jamais fará um desenho, mesmo que se passem quinhentos anos.
Acontece que, nesta nossa modernidade confusa, muitas pessoas caem no erro idolátrico de tratar os pets como gente. Há quem os chame de "filhos" e os tratem assim. A pessoa compra roupas e cobertores pro gatinho, mas não participa de uma campanha do agasalho em favor dos irmãos de rua. O cara compra bolo de aniversário pro cachorro, mas não doa uma marmita ao ser humano faminto.
Sim, os animais são seres que possuem uma alma que chamamos "sensitiva". Eles sentem dor, frio, fome, etc. Por isso mesmo não se deve maltratá-los, o que, aí sim, seria pecado aos olhos de Deus. Causar ou permitir sofrimentos aos pets, é maldade. Por isso mesmo é que, em alguns casos de acidente ou doença, é uma prova de amor sacrificar o animal para que não sofra.
Antes, porém, de saber o que fazer, cabe conhecer o que jamais realizar em caso de morte de um pet de estimação. Não se engane dizendo que ele partiu para "o céu dos cães" ou "o paraíso dos gatos". Não tendo alma, nem juízo, nem pecado, ao morrerem os animais terminam sua missão de vez. Transcendência animal fica bonito em contos ou, em último caso, para inicialmente consolar as crianças, não os adultos.
Não chame o padre para rezar sobre os restos mortais do seu pet. Não existe velório ou exéquias de animais. Você pode pedir, isso sim, que o sacerdote interceda para que supere o sofrimento da perda. Você pode oferecer sua dor e suas lágrimas por alguma boa intenção. E jamais se permita sentir a morte do animal de estimação mais do que a de algum irmão, parente ou amigo, pois isso seria idolatria.
Quando faleceu a Elvira, minha gatinha de estimação, é claro que sofri e chorei. Colocá-la numa caixa para ser enterrada decerto não foi agradável e não cumpri a tarefa sorrindo. É uma perda, não deixa de ser. Mas não se deve cair no sentimentalismo barato e nos exageros. A vida é assim, para humanos e animais: um vai, outro vem, um morre, outro nasce. Essa é a natureza.
O que fiz foi transformar a perda em ação de graças. Cantei o "Louvor das Criaturas", de São Francisco de Assis. Agradeci a Deus pela companhia da Elvira e pelos momentos bons que partilhamos. Ri das manias dela, que sempre me divertiram. Agradeci por ela ter me livrado, inúmeras vezes, do assédio de baratas, aranhas, lagartixas, etc. Demonstrei gratidão ao Criador por nos alegrar com a presença dos animais na vida da gente e pedi perdão se, em alguma ocasião, não cuidei dela como deveria.
Pelo fato de Elvira ser um tanto quanto conhecida, tratei de avisar algumas pessoas que me ajudaram a cuidar dela. E até coloquei uma foto nas redes sociais, agradecendo e registrando aquela data. Mas sem exageros, sem arroubos sentimentalóides, sem tarjinha preta com o termo "luto". Parece-me que os exageros tiram as coisas da sua de vida proporção. Gratidão sim, idolatria não.
Na sociedade apegada, egoísta e infantilizada de hoje, tais orientações soam como crueldade aos ouvidos de grande número de pessoas. Fazer o quê? O que não se pode é colocar os animais acima dos seres humanos. Quem o faz é porque já não raciocina direito, confunde as coisas e foge da Verdade. Todo o reino animal do planeta inteiro não vale mais do que uma única alma humana.
Continuemos acolhendo, cuidando e nos alegrando com a presença dos animais de estimação na nossa vida. Saibamos receber e dar carinho aos animais criados por Deus. Saibamos louvar o Criador por sua insondável providência e misericórdia para conosco. E digamos como o Pobrezinho de Assis: "Louvado sejas, meu Senhor, com todas as criaturas!".
Amém!
(Pe. Sala é jornalista e escritor, professor e teólogo, membro da Academia Ituana de Letras)