MÁ VONTADE

Quando Jesus nasceu, foi visto um coro de anjos no céu, dizendo: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade!" (Lc 2, 14). A tal "boa vontade" é a de ter o coração aberto para acolher o Cristo, a Verdade encarnada em meio à humanidade.

Acontece que prezar pela Verdade das coisas, desta vida e da próxima, está cada vez mais difícil. Na era da "pós-verdade", onde se relativiza tudo; numa sociedade cada vez mais esquizofrênica e mimizenta; num contexto onde imperam as mentirosas fakenews e as narrativas distorcidas para tudo; manifestar a Verdade é quase um crime, um escândalo, um disparate.

Sim, há quem não tenha a boa vontade de reconhecer a Verdade porque o que importa somente é fazer a própria vontade. Pra quê ouvir a Deus? Pra quê dar crédito à Igreja? Pra quê viver a Verdade da Sagrada Escritura? O mundo ensina que o melhor é fazer o que der na telha. A sociedade fala que cada um é dono do próprio nariz. A narrativa afirma que não existe "verdade absoluta".

"Faze o que tu queres, pois é tudo da lei" é a frase simplista e enganosa, disfarçada de libertária, ecoando desde os tempos do ocultista Aleister Crowley que, aliás, certamente tinha pacto com o cão. Esqueceu-se o "Tudo posso, nem tudo me convém", sábio conselho de Paulo Apóstolo (1Cor 6, 12). Os que alertam para tal discrepância, são condenados pelos escravos da mentira. Como dizia Santo Tomás de Aquino, "quem diz verdades, perde amizades".

Se a boa vontade é uma virtude que nos aproxima do Céu, a má vontade nos afasta dele. Se a primeira vem de Deus, a outra vem do Inimigo. A influência de Satanás na mente de inúmeras pessoas, em todos os tempos, as transforma em gente de má vontade. Isso é péssimo para todos os que estão em volta.

Em linhas gerais a pessoa de má vontade é descrente e desesperançada, rançosa e infeliz, desconfiada e mentirosa, acomodada e orgulhosa, entre outros péssimos adjetivos. Não quer se emendar, corrigir a própria vida. Não leva ninguém ao bom caminho, ao contrário, desvia. Prefere a desobediência e a rebeldia do que a conversão e a submissão.

Como dói na alma de homens e mulheres de má vontade uma exortação para que se convertam! Como incomoda a consciência da turma da má vontade um argumento que os coloca diante dos próprios erros! Como revolta o espírito dos de má vontade, verificar em outras pessoas uma vida virtuosa que não se esforçam em ter!

Nestes nossos tempos estranhos, em que tudo parece invertido, ter boa vontade com os outros parece até pedir pra servir de bobo. Muitas vezes parece que a má vontade já tomou conta de tudo: das pessoas, dos sistemas, das leis, etc. Porém, seja ontem, hoje ou sempre, a Verdade será sempre a mesma, doa a quem doer. E os de má vontade, que se convertam.

Como outras coisas desta vida, lidar com a má vontade alheia cansa e chateia, desanima e nos faz repensar uma série de coisas. Mas é justamente esta a estratégia do diabo, para que o império da má vontade vença. Buscando forças na oração e de consciência tranqüila por estar a serviço da Verdade, devemos prosseguir na luta teimosamente. Ou, como dizia São Paulo: "oportuna e inoportunamente" (2 Tim 4, 1-5).

Desejo, ardentemente, que a má vontade deste mundo não tire do coração de ninguém a vontade de viver na Verdade, que é Cristo, e de testemunhar a boa vontade que vem do coração de todos os verdadeiros filhos e filhas de Deus!

Amém.

(Pe. Sala é jornalista e escritor, professor e teólogo, membro da Academia Ituana de Letras)

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