FAZER O BEM
Quando perguntaram a Jesus qual era o maior dos mandamentos, ele respondeu com uma dica dupla: amar a Deus mais que tudo e ao próximo como a si mesmo. Resumindo assim, parece até fácil. Afinal, quem pode dizer que odeia o Criador? Quem tranqüilamente afirma que detesta seus semelhantes?
A questão é que nem todos amam a Deus verdadeiramente. Vivemos tempos em que grande número de pessoas cultiva uma enorme indiferença em relação aos valores espirituais. Muita gente é simpática a Deus, gosta da idéia de que ele existe. Porém, não pauta a própria vida pelos mandamentos divinos e é incapaz de qualquer mudança, conversão ou sacrifício para mostrar concretamente algum amor pelo Pai do Céu.
Embora os brasileiros sejam considerados, no mundo inteiro, um povo cordial, é preciso lembrar que cordialidade não significa caridade. Amar o próximo igual ou mais que a si mesmo vai muito além de cortesia, educação ou simpatia. Caridade é tirar de si para oferecer ao outro. É livrar-se de qualquer tipo de egoísmo e ser mais atento às necessidades dos que estão ao redor.
Ninguém pode se dizer cristão deixando de amar a Deus e ao próximo. Quem o faz, infelizmente mente. Tem uma fé que não é fé. Honra a Deus com os lábios, mas não vive o cristianismo de coração. O amor se prova com amor. E sim, é preciso provar o nosso amor por Deus e pelos irmãos. Somos felizes se percebemos e aproveitamos as inúmeras oportunidades que temos para realizar tudo isso.
Como provamos a Deus que o amamos de verdade? É simples, embora não muito fácil. Basta buscar a conversão diária. Querer, por amor a Deus, tornar-se uma pessoa melhor, mais justa e correta, mais santa, um pouco a cada dia, passo a passo. Isso implica viver de acordo com os mandamentos e preceitos da fé. Quem combate diariamente essa luta prova importar-se com o Pai Celeste e sua própria vida o demonstra.
Como provar que amamos os nossos semelhantes? Sabendo das nossas inúmeras fraquezas, o Criador ordenou as coisas de modo que todos possamos praticar a caridade. No plano espiritual, rezar uns pelos outros, vivos e mortos, é uma forma de amor. Rezar por aqueles que nos odeiam e perseguem, pedindo que se convertam e abandonem a maldade, também é caridade.
No plano material, colocar nossos bens e talentos a serviço dos mais pobres, é amá-los naquilo que podemos oferecer. Doar alimentos, agasalhos e remédios aos que precisam mostra não só um desapego, mas a caridade de quem não pensa só em si mesmo. Doar uma bolsa de estudo, arcar com um tratamento de saúde de quem não tem condições, também são formas de caridade.
Infelizmente estamos em uma sociedade globalizada também nas inúmeras formas de egoísmo existentes. Muitas pessoas deixam de fazer o bem porque simplesmente não se importam com isso. Perdem boas oportunidades usando as mais esfarrapadas desculpas, mentindo para si mesmas que não têm tempo ou que são incapazes de qualquer obra caritativa.
Há os que postergam a caridade, deixando para amanhã o bem que poderiam ter feito hoje mesmo. "Amanhã eu faço", "amanhã eu ajudo", "hoje não posso, passe mais tarde", etc. São falas que estacam a caridade. São oportunidades perdidas de sermos bons uns com os outros.
A idéia de que Deus observa todos os nossos pecados e que nos julgará em parte por nossos erros, assombra a mente de muitas pessoas. Entretanto, o contrário também é verdade. Deus observa, do mesmo modo, todas as nossas boas obras e vai levá-las em conta quando estivermos no tribunal celeste.
Jesus prometeu que sequer um copo com água, oferecido a um necessitado, misturado com amor-caridade, por sermos seus discípulos, ficará sem recompensa. Quando digo que Deus observa todas as nossas boas atitudes, ele o faz detalhadamente.
Não importa se a caridade é muita ou pouca, para um milhão de pessoas ou para um único morador de rua. Não importa se ajudamos com toneladas de doações ou se damos apenas aquilo que temos no bolso no momento. Não importa se a obra caritativa é conhecida por todos, para que muitos colaborem, ou se é feita de modo particular e discreto.
Para Deus o importante é fazer o bem, sempre e do modo que estiver ao nosso alcance. Se a gente parar para pensar, há muitas formas de sermos caridosos, basta que a gente encontre um jeito de praticar a caridade à nossa maneira, dentro do contexto em que cada um de nós se encontra.
Que a Virgem Maria continue intercedendo por nós e que o Espírito Santo continue nos inspirando para a prática da caridade. Afinal de contas, por mais moderno, ágil e tecnológico que esteja o mundo, nada substitui o amor verdadeiro entre irmãos que se amam e que, juntos, amam a Deus. Faça o bem e o faça bem.
Amém.
(Pe. Sala é jornalista e escritor, professor e teólogo, membro da Academia Ituana de Letras)