CORONAIMPRENSA:
UM JORNALISMO DOENTE
Você sabe o que é "vergonha alheia"? Sim, você sabe. É aquela sensação de constrangimento que sentimos ao ver alguém fazendo algo deplorável, um papelão, papel ridículo. Poisé... É justamente o que tenho sentido, enquanto jornalista, quando analiso a má atuação de tantos "profissionais" (sic!) da área em tantos meios de comunicação social.
Que não soe arrogante a afirmação acima. Não sou o melhor e tampouco o pior jornalista do mundo. Mas não tenho como deixar de lado o que meus sentidos percebem: a imprensa brasileira (e talvez mundial) faz tudo, menos um jornalismo decente. É um jornalismo doente, cheio de cacoetes e vícios, que disfarça a militância e distorce a verdade de acordo com seus interesses.
Claro, há exceções. Muitas e boas, graças a Deus. Mas não quero, aqui, falar do trigo. O que me preocupa é o joio, a erva daninha que vem sufocando o jornalismo brasileiro e jogando na lata de lixo a sua real função social. A coisa toda está tão ruim em nossas mídias, que me vejo em concordância com o escritor e jornalista Luis Fernando Veríssimo: "Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data".
Infelizmente, muitos jornalistas e suas empresas têm se prestado ao infame papel de desinformadores e de castradores de opinião. Não informam, mas deformam e distorcem. E tratam de usar uma pretensa autoridade jornalística para castrar opiniões discordantes, na tentativa de calar com uma ditadura silenciosa a consciência dos que divergem.
"A imprensa é a arma mais poderosa do nosso partido", disse uma vez o monstro Joseph Stalin, ditador comandante do regime comunista soviético, ele mesmo responsável por aproximadamente 100 milhões de mortes. No Brasil atual, jornalismo é poder. Mas não um poder a serviço de todos. Um poder a serviço dos poderosos, neguem o quanto consigam. A imprensa brasileira encontra-se quase que totalmente terceirizada.
A mídia de hoje desinforma, confunde e dissemina o terror. O povo desinformado, confundido e com medo, adere à primeira opiniãozinha de ocasião. Nunca foi especialidade do povo, sempre ocupado em ganhar o pão de cada dia, ficar esmiuçando o noticiário para chegar às próprias conclusões. E chega a causar compaixão verificar como tantas pessoas se deixam levar pelas narrativas bem elaboradas, embora falsas, da grande mídia. Bem disse o político democrata norte-americano Adlai Stevenson II: "A imprensa separa o joio do trigo. E publica o joio".
Temos então uma situação dramática e preocupante de um jornalismo enfermo, acometido por algo muito mais grave que um coronavírus: empresas midiáticas descomprometidas com a verdade e com a ética; jornalistas indignos do nome, militantes disfarçados e verdadeiros mercenários da desinformação (pague tanto, que eu publico); fakenews como premissa de matérias; falta de coragem e de caráter dos que não assinam os próprios trabalhos produzidos; entre tantas outras descaracterizações do ofício jornalístico que não cabem em um artigo só.
O povo brasileiro deve respeitar a boa imprensa? Isso sim, claro. Mas o povo brasileiro também precisa deixar de ser bocó, acreditando em tanta gente de má-fé e sem caráter que atua nos meios de comunicação social. Abram os olhos, minha gente! Fiquemos atentos ao alerta do jornalista Joseph Pulitzer, há mais de cem anos: "Com o tempo uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta, formará um público tão vil quanto ela mesma".
Deus nos ajude a impedir esta desgraça.
Amém.
(Pe. Sala é jornalista e escritor, professor e teólogo, membro da Academia Ituana de Letras)