BRASILEIROS E BRASILEIRAS
Nos tempos idos da minha infância, um senhor bigodudo iniciava seus discursos com uma espécie de conclamação: "Brasileiros e brasileiras!". Era o Presidente José Ribamar Sarney, o vice que assumiu a presidência da república entre 1985 e 1990, após o frustrante falecimento do eleito, indiretamente, Tancredo Neves.
Foram difíceis os anos da chamada redemocratização. O Brasil era muito facilmente afetado por quaisquer turbulências internacionais. Vivíamos de pires na mão diante do Fundo Monetário Internacional e bancos estrangeiros. A inflação era galopante. O salário recebido de manhã já tinha que ser gasto antes do almoço, pois à tarde os preços já teriam aumentado.
Uma série de planos econômicos foram tentados sem sucesso, uma vez que se baseavam no congelamento de preços. Faltava de tudo nos supermercados: carne, leite, sabão em pó, etc. A compra de alguns desses produtos eram limitados, tantos para cada cliente. Lembro-me de comer muito arroz, feijão, ovo e banana. Era o prato típico da classe média daquela época. Sim, classe média. Os realmente pobres nem ovo e banana tinham.
Muita coisa mudou a partir do Plano Real, a partir de 1994. A indexação ao dólar e outras medidas deram um ar de calmaria à confusão hiperinflacionária. Para os trabalhadores, a impressão foi a de que o dinheiro valia mais. Os preços foram estabilizando. A renda do cidadão rendia de verdade e passou a ser possível planejar algum progresso material.
Não é que hoje as coisas estejam muito melhores, pois há sempre um problema econômico a assombrar economistas e empresários, industriais e trabalhadores. Mas sabemos que a economia brasileira, comparada com a da época de Sarney, evoluiu muito. Milhões de pessoas saíram da linha da pobreza e até recebem auxílios financeiros governamentais.
Atualmente é bem mais fácil ir a um shopping center ou hipermercado e comprar inúmeros produtos até supérfluos. Perto da infância que eu e outros antes de mim tivemos, algumas crianças do século 21 têm uma vida de regalias e vontades satisfeitas. Alguns chamam a isso de progresso e talvez seja mesmo. Porém, percebo também que nosso país regrediu em alguns outros aspectos.
A sociedade brasileira está se esfacelando a olhos vistos. A liga de bons valores que nos mantinha unidos, vem sendo destruída diuturnamente. Em muitas famílias não há um pingo de religiosidade, de qualquer tipo. A durabilidade do matrimônio foi atacada frontalmente pela mentalidade do divórcio, deixando crianças confusas quanto ao papel materno e paterno. Todo tipo de autoridade foi relativizado e rebaixado. Já não se respeitam mais os avós e os pais, os professores e os padres, os policiais e os doutores em geral.
Nossos jovens, vítimas da indústria "incultural", crescem idiotizadas por filmes e músicas que transmitem uma mentalidade rasteira e alienada. A molecada aprende que Deus não existe, igreja é algo péssimo e que o negócio é viver a vida de modo inconseqüente. Para sustentar baladas e consumismo, para alguns até vale a pena tornarem-se criminosos, atuando em roubos e no tráfico de drogas. Amor à Pátria? Ridículo. Família tradicional? Pra quê?
Não há nação que sobreviva a gerações e gerações degradadas moral e espiritualmente. Mas acontece que o Brasil, talvez, ainda não seja uma nação. Somos apenas brasileiros e brasileiras, navegando à deriva nos mares da História, sem saber se surgirá outro Cabral para nos avisar que há terra à vista.
Este é um artigo pessimista? Não. É um artigo realista. A gente lembra do ontem, vive no hoje e faz a comparação. Algumas coisas melhoraram? Sem dúvida! O que preocupa é o que vai de mal a pior. Pessoas de Fé que somos, nosso dever é continuar insistindo em tocar a vida do jeito que Cristo nos ensinou com seu Santo Evangelho. Devemos continuar rezando pelos que não rezam, nadando contra a corrente e passando à geração presente os valores do Cristianismo.
Deus continue abençoando a todos nós, brasileiros e brasileiras!
Amém!
(Pe. Sala é jornalista e escritor, professor e teólogo, membro da Academia Ituana de Letras)