BRASILEIRO CATÓLICO: 10%

Quando se trata de Fé, sempre é um tanto arriscado utilizar números, estatísticas e porcentagens. Em tempos do império das "fake news" (meias verdades que são mentiras inteiras), devemos lembrar da frase de Benjamin Disraeli (1804-1881): "Há três espécies de mentiras: mentiras, mentiras deslavadas e estatísticas".

No momento, somos um pouco mais de 200 milhões de brasileiros e brasileiras. Entre tantas diferenças que são evidentes de norte a sul do país, há um elemento que nos fornece uma liga forte: o Cristianismo. Para alegria de uns e tristeza de outros, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cerca de 86,8% dos brasileiros declaram-se cristãos.

Será necessário explicar que, em terras tupiniquins menos de 15% das pessoas são de outras denominações não-cristãs? Poisé, matemática pura. Entretanto, não se pode levar questões de Fé na base da maioria matemática. Se a Igreja levasse em conta questões numéricas, Jesus Cristo não teria iniciado seu ministério com apenas 12 homens, mas com 12 mil ou 12 milhões. Ele podia e teria poder para isso.

Algum desavisado, ao conhecer os números do IBGE, pode pensar que o Brasil é o "maior país católico do mundo". Mentira. Se fosse em termos numéricos, o México nos ultrapassaria. O que vale é a prática. Não basta declarar-se cristão: deve-se demonstrar isso na própria vida cotidiana. Caso contrário, haverá lamentos da parte de Deus: este povo me louva com os lábios, mas não com o coração.

Antes de mais, a questão da fidelidade ao Cristianismo é um problema tanto entre os católicos quanto entre os protestantes. Padres e pastores concordam sobre a infidelidade de grande parte dos ditos "fiéis" que, uma ou duas vezes por semana, freqüentam a igreja. Em um ou outro dia, visitam terreiros e fazem macumbas; vão a centros espíritas e fazem jogo do copo; e também, pasmem, cometem atrocidades como magia negra e satanismo.

É assim. Sempre há um traidor (infiel) no meio dos Doze. Esta é uma verdade desde os tempos iniciais do Cristianismo. O grande problema é a contradição, a incoerência. Constância e fidelidade são essenciais para se caminhar em acordo com o Evangelho. Entre tantas coisas que nos dividem, isto une cristãos católicos e cristãos protestantes: Verdade, sempre; infidelidade, nunca.

Na minha modesta opinião, levando-se em conta o que conheço da realidade no mundo, o país mais católico do planeta é a Polônia, terra natal de São João Paulo II, "o Grande". Pequeno no mapa, gigante no catolicismo. Basta acompanhar o cotidiano polonês para se dar conta dessa realidade. No continente africano talvez haja muito mais comunidades católicas vivendo verdadeiramente o Evangelho que nas Américas e na Europa. O catolicismo ocidental há décadas vive de aparências, infelizmente.

A conta é simples: pegue o número de habitantes de uma cidade; veja quantos são os 65% que se declaram católicos; verifique se esse tanto de gente freqüenta as paróquias locais. Qualquer um verificará que o número estará bem abaixo do que indicam as estatísticas. E isso porque a grande maioria das pessoas é "católica" de boca, não de verdade, na prática. Em tempo: "católico não praticante" é algo que não existe. É o mesmo que "mulher não-grávida".

Triste dizer, mas a realidade vigente é fácil de verificar. Qualquer padre ou pastor pode afirmar: apenas 10% do povo brasileiro é realmente praticante da Fé, de acordo com os preceitos do Cristianismo. Não tem problema. Uma Igreja não deve temer bancos vazios ou adaptar-se ao mundo para ter mais ibope. Uma igreja deve continuar fiel aos valores do Evangelho, doa a quem doer, nem que tenhamos que voltar a ser doze novamente.

Daí se entende a razão de o nosso Brasil estar imerso no caos da confusão: não é um povo cristão de verdade. Apenas "fala" que aceita o Cristianismo, mas na prática não está nem aí com os preceitos divinos. Nessa falsidade toda, como esperar as bênçãos do Céu?

Nossa salvaguarda é a Mãe de Cristo, Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil. Que ela continue intercedendo por mais conversões e mais pessoas verdadeiramente cristãs, não apenas aquelas de protocolo.

(Pe. Sala é jornalista e escritor, professor e teólogo, membro da Academia Ituana de Letras)

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