ARI
O derradeiro dia de janeiro, deste recém iniciado 2024, trouxe-nos a ingrata tarefa de sepultar o amigo Ari Mendes. Todos os que fazem partem dos que atuam na música na região o conheciam. Além de marido e pai, um grande professor e excelente amigo. Foi vítima de um infarto, repentino e violento, que com culminou com a surpresa do seu passamento.
Além das preces por sua alma, para além de rezar ao Espírito Consolador que conforte sua Família e amigos, muito além de prantear o falecido, o cristão convicto aguarda com Esperança o reencontro que se dará um dia, conforme professamos na Fé. E enquanto a saudade (o amor que fica) nos oprime, entre lágrimas fazemos memória de tão querida pessoa.
Conheci Ari no final do século passado, quando uma explosão de bandas católicas tomou conta das paróquias ituanas. Nosso amigo fazia parte da pioneira e da melhor delas, sem sombra de dúvida: a Banda Ajarai. Todas as "cristotecas", as quermesses e festas (do pastel, do sorvete, etc.) tinham que contar com o pessoal do Ajarai agitando a juventude no louvor a Cristo.
Como bom enxerido que sou, sempre um tanto intrometido em tudo quanto é novidade, também fiz parte dos bastidores daquela época. Estava na banda Filhos de Deus, mas vivíamos na cola do Ajarai. O auge foram as viagens que fazíamos até Valinhos, quando animavam as tardes do programa Louvemos o Senhor, da TV Século 21.
Coisa rara, nunca vi no Ari qualquer tipo de antipatia. Se ele tinha, nunca tomei conhecimento. Sempre atencioso, com um sorriso no rosto, disposto a trocar idéias, compartilhar conhecimento, conversar sobre tudo, etc. Um baita músico, um tremendo guitarrista. Para os meus pífios padrões, um gênio. Seus muitos alunos que o digam: não tive esse privilégio.
Sua escola de música, na Rua Santa Rita, em sociedade com o amigo Rogério Castro, é uma universidade do som. Ari era um agregador, conhecia todos os bons cantores e instrumentistas da região. Tinha o dom de musicar e de ensinar, algo que realmente veio do Céu. Outra coisa que eu jamais ouvi foi alguém falar algo de ruim sobre ele. Nos dias de hoje, isso é um troféu.
Enquanto sacerdote, o fato de nos conhecermos de longa data gerou uma certa confiança. Tive a grata alegria de ajudá-lo com alguns conselhos, quando ele quis compartilhar alguns dos seus dramas. Era assíduo nas confissões, firme nas penitências e presença diária na missa do meio-dia da Candelária. Sempre discreto, nos bancos do fundo da igreja, mas sempre lá.
Desde o início foi apoiador do nosso singelo jornal Amém. Era uma satisfação visitá-lo brevemente em sua escola, pelo menos trocar umas palavras enquanto deixava os impressos em suas mãos. Da última vez, comentei ter descoberto que a origem do nome dele seria japonês. Quanto nasceu, perguntaram onde estava o bebê e o médico nipônico disse: "Ari, tá bem ari, né?", apontando para o bercinho. Ele riu, claro. Amigo que não ri de piada sem graça não é amigo de verdade.
Deus sabe de tudo e nunca erra. Se as circunstâncias desta vida trouxeram a morte para ele neste momento, estamos certos de Cristo o resgatou do vale das sombras. Esperamos o reencontro no último dia, embora cada dia sem o Ari terá a sua própria dor. De minha parte, a Candelária sempre estará um pouco vazia quando eu o procurar na missa e não o encontrar.
Peço a Jesus que o acolha no mais íntimo de seu Sagrado Coração. Ano passado, meio que de surpresa, pedi para o Ari tocar na festa do Sagrado Coração uma música de ação de graças na missa do meio-dia. Todo tímido, meio sem jeito, foi lá cumprir a missão junto a Susley. Este ano cantará conosco, já intercedendo por nós.
Obrigado Ari, por ter sido quem foi e por colocar os seus dons a serviço do Reino de Deus. Você nunca será esquecido, pois quem é amado sempre será lembrado. Terminamos com um "até breve", cientes da brevidade e da fragilidade desta nossa existência terrena. E confiamos na promessa de que as lágrimas de dor diante da morte serão transformadas, em Cristo Jesus, em lágrimas de alegria quanto estivermos todos juntos na eternidade.
Amém.