A EUCARISTIA É TUDO

Com muita alegria celebramos esta solenidade de Corpus Christi. Sim, com muita alegria. Mesmo com pandemia? Sim, com alegria. Mesmo com muitas das nossas comunidades ainda fechadas? Sim, com alegria. É preciso um olhar que esteja acima das complicações do mundo para compreender a tamanha alegria que devemos sentir ao participar, viver e testemunhar esse mistério de um Deus que se faz pão e vinho no sagrado altar.

Em primeiro lugar, precisamos dar à Eucaristia o seu devido significado. Este sacramento instituído por Cristo, fonte e o ápice da nossa Fé, não pode ser reduzido a um pretenso simbolismo. Cristo disse "Isto é o meu corpo" e "Isto é o meu sangue". Cristo não disse "façam de conta que é meu corpo e sangue" ou "isto simboliza o meu corpo e sangue". A Eucaristia é verdadeira carne e verdadeiro sangue do Emanuel, Deus Conosco, o Verbo Encarnado.

A Eucaristia é importantíssima, mas deve ser vivida de acordo com a mística da fé. O ato automático de comungar muitas ou poucas vezes, por si só, não significa necessariamente uma verdadeira comunhão com o Cristo Eucarístico. Há pessoas que não podem comungar, por causa de um impedimento qualquer, mas que sabem se manter em comunhão com Deus de outras formas. Assim como há pessoas acostumadas à comunhão diária mas que, infelizmente, dizem amar o Cristo Eucarístico ao mesmo tempo em que odeiam ou são indiferentes aos irmãos e irmãs.

Ser um simples "papa hóstias" não é garantia de chegar ao céu. A Eucaristia não é um pãozinho bento ou um biscoitinho da sorte, tampouco uma bolachinha mágica. A Eucaristia é Deus. Quem não se dá conta disso vive uma fé católica imperfeita, escorada apenas em preceitos obrigatórios. Outra coisa é sentir que na Eucaristia, por alguns instantes, temos em nossas mãos o Criador do Universo que se rebaixa até nós e que aceita colocar-se no lugar de pão e vinho para nos alimentar.

Qualquer pessoa pode comprar um saco de hóstias e uma garrafa de vinho canônico. Mas não é qualquer pessoa que pode ordenar ao pão "torne-se carne de Cristo" e ao vinho "torne-se sangue de Cristo". Aos olhos humanos o pão será sempre pão que vem do trigo e o vinho será sempre vinho que vem da uva. Somente o Cristo, o Rei do Universo, tem poder para fazer novas todas as coisas. Somente o Cristo pode ordenar que as espécies de pão e vinho se transformem em seu Corpo e Sangue.

Não é o padre, com seus pecados e misérias, o responsável pelo milagre da transubstanciação das espécies que acontece em cada Santa Missa. Por si mesmo, como simples ser humano, o padre não tem esse poder. Porém, e isso é muito importante lembrar porque alguns na Igreja às vezes se esquecem, o padre recebeu o Sacramento da Ordem, ou seja, foi ordenado, tem a ordem dada por Cristo: "fazei isto em memória de mim".

O sacerdote tona-se um outro Jesus, empresta a sua vida e vocação para que o Senhor Jesus possa agir no meio do povo com toda autoridade e poder. O padre tudo faz "in persona Christi", na pessoa de Cristo. Portanto, é o próprio Cristo, presente no ministério sacerdotal, quem garante perpetuamente a consagração do pão e do vinho e sua conversão em Corpo e Sangue do Filho de Deus. De modo misterioso, porém verdadeiro aos olhos da Fé, sabemos que Jesus nasceu do ventre da Virgem Maria. E sabemos ainda que Jesus nasce também das mãos do sacerdote quando este celebra a Santa Missa.

Por isso, é preciso respeitar o clero. Nenhum padre é um qualquer, mas um escolhido de Deus para a sagrada Missão de alimentar o povo na Eucaristia. Quem se esquece disso, tratando os padres de modo leviano e desrespeitoso, com críticas distorcidas e comparações desnecessárias, muitas vezes até mesmo sem caridade, provavelmente não está em verdadeira comunhão eucarística com o Cristo.

Recentemente, muitas pessoas estão impedidas de receber a Sagrada Comunhão. Se nos serve de consolo, isto deve causar uma maior conscientização a respeito do valor sagrado da Eucaristia. Nosso fervor em torno do Cristo Eucarístico precisa melhorar, aumentar consideravelmente. Por outro lado, também deve aumentar a nossa solidariedade para com tantos irmãos e irmãs que têm impedimentos e que não comungam a Hóstia Santa, vivendo da comunhão espiritual.

Devemos nos solidarizar também com tantas pessoas, no Brasil e no mundo que, vivendo em lugares distantes e pela falta de sacerdotes, comungam com raridade, em algumas situações ano sim, ano não. Será que os que comungam diariamente pensam nisso? Será que se dão conta da grande graça que têm a chance de viver?

O saudoso Dom Gabriel Paulino Bueno Couto, carmelita ituano e primeiro bispo da nossa Diocese de Jundiaí, deixou como últimas palavras aos sacerdotes, no seu leito de morte, esta frase: "Jesus é tudo na vida do padre". Nesta festa de Corpus Christi, ouso parafrasear este santo homem dizendo: a Eucaristia é tudo na vida da Igreja. Qualquer empenho pastoral, qualquer plano ou ação da Igreja que não sirva para levar as pessoas ao encontro místico e pessoal com Cristo na Eucaristia, está deixando de cumprir sua missão principal.

Alegremo-nos e exaltemos! Deus está no meio de nós, com o poder do Espírito Santo, no Cristo presente na Eucaristia. Muitas grandes figuras do Antigo Testamento e até mesmo os anjos, jamais souberam a graça enorme de contar com Jesus presente na hóstia consagrada. Nós temos essa graça e por isso podemos nos alegrar pelo resto de nossas vidas. E quando esta nossa pobre vida acabar, neste pobre mundo, receberemos como prêmio o cumprimento da promessa feita por Cristo: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, ainda que morra viverá".

Que cada um de nós continue se empenhando em venerar com muito amor o mistério do Corpo e Sangue de Cristo, para que possamos continuar colhendo os frutos do sacrifício de Jesus perpetuado neste admirável sacramento que é a Eucaristia.

Amém.

(Pe. Sala é jornalista e escritor, professor e teólogo, membro da Academia Ituana de Letras) 

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