A DERROTA DO CIENTIFICISMO

Há quem pense que "fé". seja algo que se destina apenas ao campo da religiosidade. O torcedor tem fé de que seu time será campeão. A esposa tem fé na fidelidade do marido. O freguês compra um produto na fé de que ficará satisfeito. O passageiro entra no ônibus com fé de que chegará ao destino pretendido. O paciente segue o tratamento médico com fé de que ficará curado.

Se fé é crer e acreditar, todos temos as nossas crenças e em várias coisas práticas. O ato de fé é sempre uma espécie de aposta, nunca uma certeza pronta e acabada. Temos Fé em Deus e nas promessas de Cristo, por óbvio. Mas a Fé é tudo o que temos ela nos traz mais perguntas que respostas. Aquela certeza, cem por cento certa, só mesmo quando estivermos face a face com o Criador.

Como podemos, então, ter Fé em tudo quanto nos foi revelado por Deus? Colocando a nossa confiança e a nossa esperança no testemunho de inúmeras pessoas, homens e mulheres de muitíssimas gerações passadas, a respeito de tudo quando Deus realizou em suas vidas. A Fé também se utiliza de evidências. Ignorante é quem pensa que a fé é coisa de ignorantes. Nossa Fé cristã tem fundamentos, tem estrutura, tem método, tem bases sólidas e confiáveis.

Um grande problema é quando a fé é dirigida a algo errado. O bandido tem fé de que o crime compensa e de que nunca será pego. O imprudente no trânsito tem fé de que nunca causará um acidente. O sedentário tem fé de que sua dieta de fast food jamais lhe trará um enfarto. Tem gente com tanta fé em si mesmo, que pensa que o mundo inteiro está errado, menos ele. Há quem tenha mais fé no Mal e por isso nunca pratica o Bem.

No estranhíssimo 2020 que partilhamos, a derrota evidente foi a dos que colocaram fé demais na Ciência e a isso chamamos "cientificismo". Que a Ciência é importante ninguém duvida, muito menos a Igreja. Ao contrário do que afirmam os papagaios dos iluministas, a Igreja sempre fomentou e apoiou a Ciência. Há uma lista enorme de clérigos cientistas e de leigos apadrinhados em seus experimentos.

O cientificismo, porém, é mais uma enganação modernete. É a fé cega dirigida aos cientistas, na esperança irreal de que estes tenham todas as respostas do mundo através de suas teorias. A Ciência não é uma caixa fechada, mas sempre aberta. Ela também vive mais de curiosidades que de certezas, muito mais de especulações do que verdades.

As vítimas do cientificismo apresentam alguns sintomas: não dão o mínimo crédito a qualquer ponto da sabedoria milenar da fé judaico-cristã; acreditam mais em agulhas e soluções químicas do que na presença e na ação divina no mundo; acham-se pequenos deuses da razão, esquecendo que o mistério da vida humana vai muito mais além do que enxerga a nossa vã filosofia; geralmente são vítimas também do materialismo ateu; etc.

O cientificismo é o exagero da fé na Ciência, que não pode salvar tudo e todos, tampouco realizar milagres, seja no meio de uma pandemia ou não. É preciso colocar as coisas em seus devidos lugares. Há tempos a Igreja vem dizendo que Fé e Ciência são as duas asas de um mesmo avião. Não são concorrentes, mas convergentes. A Fé, sem a Ciência, é alienante e fundamentalista. A Ciência, sem a Fé, é desumana e desalmada. Colocá-la no lugar de Deus não é a solução para as crises da humanidade.

Está mais do que na hora de dar um fim a essa briguinha besta dos que opõem Fé e Ciência para incomodar os que acreditam que a religião e a espiritualidade são fundamentais aos seres humanos. Ambas devem andar de mãos dadas, em colaboração mútua. Portanto, tenhamos fé na Ciência sem cair no exagero bobo do cientificismo. E que a Ciência, deslumbrante e eficaz em suas descobertas, não sirva para nos tirar a Fé que temos.

Amém.

(Pe. Sala é jornalista e escritor, professor e teólogo, membro da Academia Ituana de Letras)

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